Caninos brancos

CANINOSBRANCOS Estava há um bom tempo sem escrever sobre banalidades. Talvez eu tenha tentado compensar isso, inconscientemente que fosse, com postagens ou opiniões emitidas nessas vastidão de redes sociais (mais notoriamente Facebook, a maior e mais popular e consolidada de todas, ou individualmente por GTALK, grupos de discussão, em menor escala). Já me disseram que os blogs acabaram, que o negócio é criar uma página no Facebook, mas discordo completamente. Facebook, que adoro e sou absolutamente viciado, tem um propósito meio “balaio de gato”. Todo mundo, sem discriminação ou afinidade, entra, vê o que você postou (ou não) e comenta (ou não). E acabou.

O blog, acho, se posiciona hoje mais como o rádio depois que a TV fatiou-lhe a audiência: é uma leitura segmentada, até certo ponto “qualificada” no sentido de que ninguém vai ter acesso àquela informação por osmose ou passivamente. É preciso que a pessoa tenha se dado ao trabalho, mínimo que seja, de ter digitado o endereço do site ou acessado o atalho em seus favoritos (pretensão!!!). Sua publicação não vai desaparecer na linha do tempo do leitor em meio a milhares de fotos de cachorros, bebês, pratos de comida, festas, almoços de família ou viagens pelo mundo ou gente reclamando da operadora de telefone ou de atraso no vôo.

Desta forma, discreta e sem alarde, decidi voltar a escrever sobre coisas que gosto, que curto, que vejo, que leio, que faço neste espaço. É minha primeira meta para o ano que se inicia hoje.

E, sem mais delongas, deixo aqui minhas impressões, nessa primeira publicação, sobre o livro que mais gostei de ler em 2012, mais uma boa indicação de um amigo que sempre me passa referências bastante interessantes: Caninos Brancos, do Jack London. Escrito há mais de 100 anos (é de 1906), o livro tem uma temática aparentemente ingênua e que tinha tudo para ser enfadonha: o mundo visto do ponto de vista de um cão-lobo, que começa sua vida na natureza selvagem do Alasca, passa por diversos perrengues e situações conflitantes e angustiantes com seus semelhantes e, principalmente, sua mãe, e depois vive o horror e o amor na mão de seres humanos, domadores, índios ou simples transeuntes americanos de passagem pelo maior estado norte-americano.

Muita gente já leu esse livro há tempos, mas queria começar com ele por aqui porque, apesar de escrito há mais de um século (e eu tenho particular birra e dificuldade com literatura produzida há mais de 50 anos), é de uma inteligência emocional e de uma simplicidade ímpares. Das que fazem você refletir sobre os mais diversos pontos de vista de uma situação em que aparentemente não existe um outro “ponto de vista”. A vida do cão-lobo relatada no livro mostra como o contato com o mundo real massacra, machuca, testa, mas no fim das contas, amadurece e fortalece, ainda que com várias cicatrizes, a personalidade do bicho. Sem nenhum pieguismo, e com uma serenidade leve, mas igualmente realista, o livro leva o animal ao encontro do afeto e da adaptação necessária para a sua sobrevivência entre os diferentes. Ao mundo onde o que se faz é o que se recebe. Onde todo mal que é feito é devolvido na mesma carga. E o mesmo ocorre, ufa, com o bem gerado.

Eu espero que esse blog (ou sítio) seja da mesma forma, algo que só traga leveza a quem passar por aqui. Não quero ver discussão agressiva, provocação, bullying, bate-boca nem nada disso – por isso, moderarei, sim, os comentários. Quero, assim como o cão-lobo, chegar logo no ponto de abstrair só energia boa quando chegar em casa do trabalho e me divertir pensando no que escreverei naquela noite. Meio que ainda sem uma direção específica (tenho uma meia dúzia de temas que gosto e vou discorrer sobre com o passar dos dias), espero continuar, pelo menos uma vezinha por semana, deixando minhas impressões mundanas por aqui. Sem alarde, sem papagaiada, sem exposição. Com discrição e disposição pra jogar conversa fiada fora. Se você quer trocar uma ideia comigo sobre algum assunto que tivermos em comum, como diz um outro amigo meu, “conversa aí”.