Malditos sintetizadores!!!

Strokes "On a highway to hell and going down": os americanos desistiram de fazer um rock dançante e alto astral para apostar numa overdose de sintetizadores

Strokes “On a highway to hell and going down“: os americanos desistiram de fazer um rock dançante e alto astral para apostar numa overdose de sintetizadores

Sintetizadores são o ícone musical dos anos 80. Naquela década que hoje é exaltada e cantada em revivals que não acabam nunca, aquele barulhinho metálico e aeroespacial vindo de um teclado conquistou fãs e marcou toda uma geração. New Order, Pet Shop Boys, Oingo Boingo, A-HA, The Pretenders, Duran Duran, Simple Minds… Todo mundo passeou por ali em algum momento. Depois vieram os rocks farofas, o grunge, os indies e eis que, em pleno desenrolar da segunda década do Século XXI, algumas bandas de rock vanguardista estão incorrendo num erro grosseiro, que é usar (e abusar) desse maldito recurso que já ficou pra trás e hoje só deveria existir nas festas do Paulinho Madrugada (Anos 80).

O pior exemplo, e para mim a grande decepção do momento, é o Strokes. Por muitos anos, enquanto tinham lançado apenas os três primeiros discos, os caras eram frequentemente citados como a maior banda dos anos 2000. Emplacaram vários clássicos e conseguiram um repertório respeitável, de qualidade, com personalidade própria e que ia muito além do mega hit Last Night. Mas aí ficaram cinco anos sem gravar nada, os integrantes da banda entraram em carreiras solo – um deles até andou tocando com o camarada do Los Hermanos – e veio o já decepcionante quarto disco, em 2011, o tal do Angles. Ali já dava pra ver que os caras tinham se perdido – What the fuck is Machu Pichu?

Mas, não contentes em jogar no lixo toda a reputação construída numa década já encerrada, os caras nesse começo de ano vinham divulgando em doses homeopáticas e torturantes as novas músicas do quinto disco, Comedown Machine, inclusive com clipes gravados no Brasil. Ainda com algum rescaldo dos primeiros discos, me arrisquei a ouvir a nova obra de Joe Casablanca (e cia definitivamente limitada), lançada na íntegra nessa semana.

E o resultado não poderia ser pior. A cada música que ia escutando, ia ficando inconformado. À exceção de 80’s Comedown Machine All The Time, que são lampejos de recordação dos bons e velhos tempos, o resto todo do álbum é um frankestein aberrante que inclui overdoses massacrantes de sintetizadores, como em One Way Trigger, um tecnobrega que lembra as rumbas latinas e certamente vai ficar famosa pelos gritinhos falsetes ridículos e pelo clipe tosco gravado nas ruas de São Paulo. 50 50 parece feita especialmente para você dormir e Call It Fate, Call It Karma fica como dica para os DJs que quiserem expulsar todo mundo de uma festa sem precisar dizer “chega, vão para casa”.

Se o Killers já é uma banda com tendências eletrônicas e “sintetizadoras”, o Strokes resolveu clonar sem a menor vergonha os conterrâneos. Escute a faixa com o sugestivo nome de Partners in Crime e será difícil saber se quem está cantando ali é Joe Casablanca ou Brandon Flowers. Outra que se esforça bastante (e consegue com louvor) para deixar de cabelo em pé até mesmo o fã antigo mais ardoroso da banda é Welcome to Japan, um lixo. E Tap Out deve ter saído diretamente da discografia não-autorizada da Cindy Lauper.

Aliás, o vocalista do Strokes anda inventando de cantar em estado de agonia. Só isso explica os berrinhos agudos intragáveis e as gravações como se o camarada estivesse cantando de dentro de um chuveiro. Ele simplesmente estraga músicas com potencial como Slow Animals Chances. 

Para completar, parece que os caras ainda entenderam errado o papo pós-moderno de que fazer música para videogame é um caminho para o sucesso. A faixa Happy Ending parece adequadissima para um jogo tipo Super Mario Bros

Fico de verdade triste com esses rumos que algumas bandas tomam. É legal experimentar coisas novas, mas rock de verdade tem guitarra, meu Deus do céu. O experimentalismo de uma banda que eu já curti muito me deixa realmente frustrado. Ainda bem que existem caras como Pearl Jam, Foo Fighters e até mesmo o recente Wolfmother para mostrarem que é possível continuar fazendo um som cada vez mais legal sem estuprar o ouvido de quem aprecia um bom, velho e novo rock and roll.

Que os Strokes descansem em paz.

Os campeões da curtição

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Não fiz nenhuma análise de campo ou levantamento estatístico, mas com tanto tempo investido em redes sociais (para alguns é desperdiçado, não é o meu caso), me arrisco a dizer aqui os temas campeões de popularidade no Facebook, uma das redes em que sou bastante assíduo:

1) Publicações sobre feitos e conquistas pessoais: “estou grávida”, “passei no vestibular”, ˜subi uma montanha”, “perdi 10kg”, “mudei de cidade”, “casei” e por aí vai. Esses são batata. É tipo mais de 100 curtidas em menos de uma hora. É quase politicamente incorreto você não curtir uma publicação de algum amigo (“amigo” de Facebook eu tô falando) seu que alcança alguma conquista desse porte. Brincadeiras à parte – e falando a verdade -, é bom demais ver as pessoas felizes e realizadas. Então esse tipo de publicação não tem erro.

2) Algum pedido de ajuda, para doação de sangue, ou situação que envolve a saúde ou a vida de alguém, ou mesmo algum aviso do tipo ˜roubaram meu carro˜. Normalmente este tipo de postagem ganha também muitos compartilhamentos. Nas redes, toda solidariedade é válida e, na velocidade de propagação proporcional à rede de contatos de cada um, a eficácia é maior e todo mundo quer ajudar como pode. E sem tirar a bunda da cadeira.

3) Internautas adoram um salseiro, uma confusão. Então, publicações que falam mal de alguma empresa em detalhes tendem a ser campeãs de audiência (e curtidas e compartilhamentos). Geralmente, as companhias telefônicas, aéreas e de TV a cabo são as baluartes da impopularidade não só no Procon, mas nas redes sociais também. É o caso raro em que mesmo um texto grande e sem foto ou vídeo, é devorado em detalhes pelos leitores. Tudo pela ânsia incontrolável de assistir a um barraco virtual de camarote.

4) Uma frase ou uma tirada realmente criativa é, na minha modesta opinião, o tipo de publicação que rende os índices de audiência mais honestos, puros e merecidos. Perdidas na imensidão de porcarias e idiotices que inundam nossas linhas do tempo, essas “sacadas” batutas, muito mais do que qualquer um dos itens acima, é o que diferencia os meninos dos homens. É o que forma (pro bem e pro mal) a imagem virtual do cidadão. Se você considerar que 90,87% (DataCampbell) das pessoas que estão no seu Facebook não são exatamente gente que te conhece nos mínimos detalhes, a imagem que a grande maioria faz de você no mundo real é o que você publica no mundo virtual. Então, se você sair da vala comum e sensata da galera que é discreta e “apenas observa”, saiba que dificilmente vai passar imune pelo julgamento popular em relação ao que postar: ou vai torrar o filme de vez e vira o bufão do Facebook ou quebra a cabeça pra postar algo relevante sempre e ganha alguns admiradores virtuais pelo menos.

Difícil? Nem tanto. O mundo virtual é bem parecido com o real: se você não tem nada para falar, não fale. Melhor ficar quieto e deixar a dúvida sobre a sua (ou minha, ou nossa, ou deles) “sem-gracisse” do que abrir a boca e dar aos Facebookers a certeza de que você (ou eu, ou nós ou eles) é tão interessante quanto uma pratada de chuchu. Como diz um amigo meu, “não te expõe, rapaz!˜.

As rainhas da música irritante

qotsailustracaoJá tinha visto o Queens Of The Stone Age (QOTSA para os íntimos) ao vivo no Rock In Rio III, em 2001, mas na época não dei a mínima pra eles, que só tinham lançado dois discos e ganharam notoriedade no festival apenas pelo fato de o vocalista ter sido preso após ficar pelado no palco. Então que, na minha saga de “estudar” as bandas que tocarão no Lollapalooza 2013, daqui a umas três semanas em São Paulo, fiz nos últimos meses uma imersão nos cinco discos lançados pelo QOTSA. Algo como “será que existe vida além de Feel Good Hit Of The Summer, Little Sister No One Knows?”.

Claro, como bom apreciador de bandas e músicas boas, encontrei algumas coisas bem legais, principalmente nos dois primeiros discos (Queens Of The Stone AgeRated R), como Regular John, que parece muito Strokes (ou o contrário, já que Casablanca e cia surgiram depois do QOTSA). Também curti Mexicola, The Lost Art Of Keeping a Secret Tension Head, algo 200% influenciado por Foo Fighters. Tem também Lightning Song, um clone da fase acústica do Led Zeppelin. Sim, há boas músicas gravadas pela banda.

Eu não sou de falar mal de bandas de rock mais ou menos consagradas. E mesmo quando faço alguma crítica, quase peço desculpas. Mas essa overdose de QOTSA, a despeito do prolífico contato com coisas boas, me levou a uma constatação bem sólida: nunca vi uma banda com tanta música irritante. Não tô falando de música ruim (apesar de que é tênue a linha entre a mediocridade e o trabalho mal-compreendido), mas de umas canções decididamente chatas, em que fiquei com a nítida sensação de que o criador (ou criadores) das mesmas simplesmente desisitu no meio da gravação e se limitou a repetir os mesmos dois acordes seguidamente. Sem nenhuma interrupção e de forma sincronizada por um, dois, às vezes três minutos seguidos. De enlouquecer o Pato Donald tentando segurar o vazamento da torneira.

Não julgo nenhum disco antes de ouvi-lo como atividade fim (ouço o disco prestando atenção no nome da música e me dedicando àquilo) pelo menos umas dez vezes. Então posso dizer em alto e irritante som: músicas como Walking On The SidewalksI Was a Teenage Hand Model, do primeiro disco, são de tirar do sério qualquer cara que não esteja espumando numa viagem lisérgica. I Think I Lost My Headache, do segundo disco, é poeticamente o contrário do que diz o título: uma receita pra dor de cabeça no pobre do ouvinte.

A chatice não pára e parece ser obrigatória e quase uma marca registrada da banda, que não passou nenhum de seus discos sem gravar algo xarope no estilo zumbi-mosquito-hipnotismo. Song For The Dead, do álbum Songs For The Deaf até começa bem, depois chega na mesma preguicite aguda arrastada: uma barulheira constante e sem variações. E sem comentários para a faixa-gracinha The Real Song For The Deaf, que encerra o álbum como papel higiênico cagado.

A capacidade desta banda ir do céu ao inferno em duas faixas impressiona ainda mais no até certo ponto aclamado quarto disco, o Lullabies to Paralyze, que tem, segundo o meu (suspeitíssimo) critério de avaliação, mais três músicas que fazem você querer esmurrar o botão de liga / desliga do rádio ou amaldiçoar eternamente os preguiçosos da Kiss FM, que não pega direito em Brasília nem sob tortura: Someone’s In The Wolf (com inaceitáveis sete minutos de pura irritação), “You’ve Got A Killer Scene There, Man” e Skin On Skin, para mim, a campeã da perturbação mental de toda a obra da banda.

Tem anos que os californianos do QOTSA não lançam um trabalho novo. O último disco, Era Vulgaris, de 2005, ainda teve uma edição especial lançada com faixas ao vivo e outras remixadas, que são de enfartar qualquer apreciador de guitarras, como eu.

Eu respeito a banda, que já tocou e gravou com o versátil e talentoso Dave Grohl em diversas ocasiões. Apesar da quantidade muito acima do tolerável de experiências erráticas, a discografia do QOTSA os permite fazer um show legal no Lollapalooza. Tentei achar a sequência que eles têm tocado ultimamente para ver se a chatice se limita aos discos….Mas eles não têm tocado ultimamente!!! Então, otimista que sou, levo a esperança de ver um show “visceral”, como definiu meu simpático amigo César Arrais. Espero que ele esteja certo.

Vagabundos iluminados

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Já li tinha lido dois livros do Jack Kerouac, o pai e criador da geração e do estilo beatnik de ser. On The Road (ou Na Estrada, em bom português), a obra-prima dele, é como se fosse a bíblia dos homens livres (mas não considero nenhum primor de escrita) e O Viajante Solitário, que conta suas desventuras mundo afora em navios e linhas de trem, achei bem fraco, tanto em texto como em conteúdo. Agora terminei de ler Vagabundos Iluminados, que para mim é o melhor dos três.

O livro conta as angústias de Ray Smith, um projeto de poeta e filósofo do nada, em sua busca pela “luz”, pela liberdade, por um estilo desprendido e descompromissado de viver, sem obrigações, sem apego a coisas materiais e cheio de emoções e situações complicadas e embaraçosas. A inspiração e fonte eterna de admiração de Ray é Japhy Rider, um jovem budista que exalta com naturalidade exatamente esses valores buscados por Ray: desprendimento da sociedade de consumo, vida com o mínimo de dinheiro e cheia de planos de fuga.

Em suas andanças com Japhy, Ray é apresentado a amigos “poetas”, montanhistas e uma série de sujeitos com um estilo alternativo de vida. Com Japhy e depois sem ele, Ray busca o isolamento completo do mundo, escalando montanhas na costa oeste dos Estados Unidos. Neste processo, pintam uma série de reflexões interessantes sobre a vida e os valores mais ou menos exaltados pela sociedade. “Para afastar os males do mundo e da cidade e encontrar minha alma verdadeiramente pura, eu só precisava de uma mochila decente nas costas“, conclui em determinado momento.

Escrito no fim dos anos 1950, pouco depois de Na EstradaVagabundos Iluminados usa e abusa de termos zen-darma-budistas e filosofias que às vezes enchem um pouco a paciência, mas a libertinagem (nada comparado ao Reinaldo Moraes, porém sobram relatos de amores livres, orgias, bebedeiras sem limites e decisões questionáveis) sutil com um tom até certo ponto irônico dão um retoque diferenciado e bacana ao livro.

Como que em constante negação ao mundo real e “opressor” em que vive (na verdade, o grande mantra dos beatniks), Kerouac nos descreve com maestria a sensação de paz e isolamento que acalma a alma e é até certo ponto o sonho de muita gente: “Agora vem a tristeza de voltar para as cidades e eu fiquei dois meses mais velho e lá está toda a humanidade de bares e apresentações burlescas e amor áspero, tudo de cabeça para baixo no vazio”. 

Fatalista, realista ou inquieto. Qualquer que seja o adjetivo usado para descrever as viagens filosóficas e reais de Ray e de seus amigos vagabundos iluminados, o fim, inevitável (a não ser que você queria morrer Na Natureza Selvagem) é o mesmo. “Eu sabia que aquele barraco e aquela montanha compreenderiam o que aquilo significava, e me virei e continuei seguindo a trilha que me conduziria de volta a esse mundo”. 

Que voltemos sempre melhores e mais iluminados para nossos mundos após qualquer imersão beatnik de reflexões.

Programa de índio?

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Toda vez que volto de uma viagem “ecoturística”, é a mesma coisa: “caramba, o que você foi fazer no meio do mato? Caminhou cinco dias? Dormiu em barraca? É louco? Eu teria desistido na primeira hora“, me dizem alguns. Normal. Dependendo do lugar e do que você tá fazendo, de onde tá caminhando, eu mesmo nem teria começado. O que mais tem por aí é trilha chata, que leva o nada ao lugar nenhum passando por um caminho mais feio que bater na mãe na véspera do Natal. Mas o que muita gente não percebe é que uma viagem desse tipo, de “fazer trilha“, é escolhida meticulosamente, provavelmente com muito mais critério e cuidado do que uma viagem urbana. Ninguém se mete no meio do mato num parque nacional sem saber o que vai ver pelo caminho e, sobretudo, sem saber onde vai dormir, como vai dormir, o que vai ter a seu dispor, o que vai ter de levar, etc. Todos esses fatores são decisivos na hora de escolher e traçar o planejamento de uma “ecotrip”. Comigo não é diferente. Aguento alguns perrengues. Não aguento outros (carregar e montar barraca, fazer a própria janta, dormir no chão, por exemplo).

No meu caso, e acho que a maioria das pessoas que gostam de passar parte (ou mesmo toda) das suas férias fazendo trekking, a motivação passa principalmente pelos fatores “contato direto com a natureza”, “nível alto de isolamento” e principalmente “recompensas no cenário”. Uma trilha legal tem que passar por vales, rios, cachoeiras, montanhas, lagos, florestas. Tem que ter uma vista panorâmica – e para ter vista panorâmica provavelmente você vai ter de subir e queimar muita lenha no percurso, garotão. Se tiver animais selvagens no meio do caminho, melhor ainda.

Eu cada vez mais amo o contato com a natureza. Tem vezes que me dá dó de ter de ir embora de um lugar bem isolado e voltar pro mundo real. Dá vontade de ficar por lá e largar esse universo emocionalmente opressor a que sobrevivemos todos os dias. Gosto de ficar longe, olhando pro céu, “ouvindo o silêncio”, refletindo sem interrupções sobre meus relacionamentos pessoais e profissionais, repensando meus planos, questionando minha própria existência, minhas atitudes e rumos. Nesse ponto, me incomoda sim ir para um lugar fazer trilha onde tem hordas de crianças e adolescentes obesos, grupos de quarenta pessoas com guias para fazer caminhada de trinta minutos em calçadas pavimentadas, com corrimão, plaquinhas e o escambáu. Nada contra essas pessoas. Mas não é para mim, hoje. Tudo teve, tem e terá seu tempo.

Uma trilha tem que ser difícil. Tem que ser sofrida. Tem que ter perrengue. Porque só dá valor a uma cachoeira linda, à vista de um horizonte infinito, a um pôr-do-sol indescritível e a uma sensação de paz quem supera tudo isso sem reclamar do peso da mochila, da falta de energia elétrica ou de água quente, sem achar que aquela trajetória é um coisa sem o menor sentido. Uma caminhada pelo meio do mato testa a sua vontade, a sua determinação, a sua capacidade de desprendimento, a sua solidariedade, a sua capacidade de relevar imprevistos pequenos, médios ou grandes em busca de um objetivo maior.

O meu “programa de índio” mundo afora, sempre que possível, está cada vez mais próximo do contato direto e remoto com a natureza.

E se você gosta tanto de natureza quanto eu, você me entende perfeitamente quando eu digo que foi espetacular ficar oito dias no Monte Roraima dormindo em barraca e com o joelho estourado. Que foi histórico andar 80km em quatro dias no sul no Parque Nacional de Torres del Paine, no Chile. Que foi regozijante caminhar um dia inteiro no meio da chuva entre as pedras no leito de um rio pra chegar à Cachoeira da Fumaça na Chapada Diamantina. Sim, você me entende também quando, em vez de querer fazer compras em Miami ou passar sete dias visitando (???) seis cidades na Europa, eu posso querer passar o próximo feriado no Jalapão, na Chapada dos Guimarães ou no Aparados da Serra.

Um por todos…

dartagnaneostresmosqueteirosTerminei de ler esses dias meu primeiro livro de 2013. E, para quem tem dificuldade em absorver literatura com mais de 50 anos (muito mais, no caso), até que passei bem feliz pelo clássico Os Três Mosqueteiros, do Alexandre Dumas. A história, ambientada no século XVII, na França em constantes disputas com a Inglaterra, relata os feitos de quatro mosqueteiros (D’artagnan e os tais “três mosqueteiros”, Athos, Porthos e Aramis), tanto em ferozes duelos de espadas como em tramóias, intrigas e encruzilhadas políticas e amorosas que têm como pano de fundo a corte francesa, na pele do Rei Luis XIII, a rainha Ana da Áustria, o cardeal Richelieu e uma misteriosa mulher conhecida como “Milady”. D’Artagnan é o personagem principal e dá pra dizer também que o autor desenvolve muito mais Athos do que Aramis e, principalmente, Porthos, esse quase relegado a um aspone fanfarrão dos outros brothers. 

Eu tenho um carinho muito especial por essa história, e quem tem mais de 30 anos provavelmente o tem também, por conta de um desenho animado que passou à exaustão nos anos 80 aqui no Brasil, chamado “D’artagnan e os Três Mosqueteiros“. Era exibido num canal tipo TV Manchete ou TV Nacional (não lembro direito) e os personagens, caracterizados como cachorros e outros bichos (o maquiavélico Richelieu é uma raposa, não à toa) reproduziam com fidelidade (e algumas pequenas mudanças, como por exemplo a Sra. Bonacieux se chamava Juliette) a história contada por Dumas. Eu lembro tanto desse desenho que toda vez que pegava o livro para ler agora, ficava com a música tema de abertura na minha cabeça. Coisa do tipo chiclete sabe. “Um por todos contra o mal, e todos por um…E o amor de D’artagnan era pra Julietteeee…D’artagnan, D’artagnan era um valente e forte… “. Aff!!!

O livro chama a atenção por ser uma narrativa muito bem construída, apesar de comprida (as 800 páginas, vale lembrar, são em letras médias, mas num livro pequenininho, tipo você lê 50 páginas em mais ou menos uma hora, se tiver razoavelmente concentrado – algo difícil pra um PHD em DDA como eu). Alexandre Dumas e o tradutor usam e abusam do formalismo da segunda pessoa do singular e do plural. Sobram verbos como enxergais, fazeis, olhai e outros. Também é muito comum ele parar para conversar com o leitor em linguagem direta. Tipo “Como o leitor já soube no capítulo anterior…” ou “E agora, querido leitor, você deve estar imaginando onde estão nossos amigos….”.

É um livro que dá perfeitamente para ser lido por um adolescente. Chega a ser maniqueísta, pois a vilã só faz maldades e os quatro (e não três) amigos são baluartes de valores como amizades, cooperação, amor e lealdade. Sempre, é claro, regados com pitadas de transgressões como alguns porres e triangulações amorosas, como ocorre com todos os heróis medievais ou modernos. Mas mesmo as cenas de sexo e morte são relatadas de forma excessivamente discretas e desprovidas de muitos detalhes (como se isso fosse algum problema), a não ser para dramatizar algumas situações, como num embate envolvendo o Duque de Buckingham. Mas fazem, sim, parte da trama. Tipo você não sente que está lendo um capítulo dispensável, tudo está ligado, ainda que forma bem tênue.

Outra peculiaridade que descobri pesquisando na internet depois é que quase todos os personagens principais existiram. Todos têm nome e sobrenome e viveram mais ou menos na época referida, nos anos mil seiscentos e alguma coisa. Para quem já leu a história, uma outra curiosidade: Alexandre Dumas fez duas sequências, bastante compridas por sinal, chamadas Vinte Anos Depois e O Visconde da Máscara de Ferro. Pelo que li das sinopses, parecem ter enredos mais pesados e tristes do que o clássico original.Vou colocar na fila para ler um dia.

No fim das contas, Os Três Mosqueteiros valeu demais. Não é um livro que te faz ficar instigado e com o coração saindo pela boca nem super curioso, mas é leve, divertido e às vezes até engraçado e um pouco ousado, considerando que foi escrito em 1844. É um clássico quase que obrigatório. Sem falar na imensidão de filmes que já foram feitos inspirados na obra-prima de Dumas. Até o Charlie Sheen já participou de uma das adaptações – ele era o “religioso” Aramis.

Eu fiquei com a musiquinha, quase um cântico religioso, do desenho na cabeça. Agora clica aí e vê se você não vai ficar também:

O Instagram de cada um… e o meu Instagram

instagram

Todo ano aparece uma rede social aqui, outra ali. Umas vão, outras perduram bastante, outras não dão certo nem sob tortura (abrazo  pro UOLKUT). Mas desde que entrei no tal do Instagram, posso dizer que essa passou a ser a minha preferida. Mais até que o Facebook.

Eu sou louco com foto. Principalmente foto de natureza, de paisagem, de lugares e de pessoas (não posadas). Nada comunica mais do que uma bela imagem. E o Instagram é divertido por isso. Você não tem apenas “amigos” ali. Você tem pessoas que você segue e se você as segue (ou se não segue) é porque gosta (ou não gosta) do que ela publica como fotos periodicamente. Cada um tem seu jeito de ver o Instagram. Tem uns que só postam fotos de comidas. Outros dos filhos. Outros das baladas. Outros do caminho entre a casa e o trabalho. Outros fazem quase um diário de viagem. Enfim, cada um se diverte do jeito que gosta e isso pode ser ajustado com um simples “seguir” ou “des-seguir”.

Eu demorei, mas já descobri minhas preferências ali: gosto de publicar, uma ou duas vezes por dia, alguma foto que eu tenha curtido bastante em viagens que fiz em algum momento da vida ou que tirei em Brasília mesmo. Quase sempre são fotos velhas. Não são do dia. Não gosto de aparecer nessas fotos. Tento publicar alguma foto que se destaque pelas cores, pelo cenário ou por algum ângulo diferente. Nem sempre dá certo. Mas gosto de tentar e me focar nisso. No começo, eu queria só ter meus “amigos” me seguindo. E vice-versa. Mas depois mudei completamente minha percepção sobre o meu jeito de usar o Instagram. Hoje sigo algumas premissas – que, claro, podem mudar – no meu relacionamento com essa rede. É assim, ó:

1) Se você quer interagir com gente na mesma vibe que você, faça a mesma coisa. Siga pessoas com fotos do mesmo estilo. No meu caso, sigo, por exemplo, o My Travel Gram, que premia as melhores fotos do dia. Ou o perfil da National Geographic, que dispensa apresentações. Tem alguns caras que eu descobri ao longo do tempo que acho muito legais. Um tal Black Raven posta fotos no estilo noir, nitidamente trabalhadas. Mas acho fascinante. Tem um maluco que só posta fotos dos telhados de casas de Vladivostok, na Rússia. E outro, que se chama The Nomad Barber, que retrata cidadãos comuns cortando os cabelos nas ruas de todo o mundo.

2) Colocar as marcações corretas é fundamental para atrair seguidores. Se você faz uma foto do deserto do Saara, além de marcar os tradicionais sites que promovem as melhores fotos do dia (My Travel Gram, Instagram Web Hub, Travelingram, só para citar alguns), identifique o local. Coloque #africa #saara #desert. E vá além. Identifique adjetivos, em inglês ou português ou qualquer idioma, como #beautiful #nice ou mesmo substantivos descritivos como #landscape #natureza e por aí vai. Muita gente procura fotos no Instagram com esses termos todos os dias. Dê uma busca no Google com “most common hashtags in Instagram“, que você vai encontrar uma série delas que ajudarão muita gente a acessar e eventualmente curtir suas fotos. Lembrando que o Instagram não permite mais de 30 marcações.

3) Spammers: perfis com fotos de mulheres gostosas falando “check out my pics” ou “get 10K followers” me seguindo? Bloqueio e denúncia na hora.

4) Bullers ou Trolls: segundo as regras de qualquer manual de bom comportamento nas redes sociais, caras que ficam repetindo provocações sem sentido e ávidos para bater boca ou te irritar, devem ter seus comentários apagados sem dó. Sujeitos assim nada acrescentam ao seu mundinho virtual. Se o cara insistir em sua missão de ser desagradável, faça um favor a ele: bloqueie-o.

5) Não sigo quem tem milhares de seguidores e não segue ninguém: há perfis que podem ter as melhores fotos do mundo, mas se os caras têm tipo 30 mil seguidores e seguem 10 pessoas, não vejo isso como um bom sinal de interação. Ele não tem obrigação de te seguir, mas se há uma desproporção nessa relação seguidores / seguindo, pode ter certeza que ele não terá o menor interesse nas suas fotos. Trate-o da mesma forma.

6) Não poste demais: não tem nada mais irritante do que um cara que posta 10, 15 fotos por dia. Pior: em sequência. O cara vai pro aniversario da tia e tira foto de todas as crianças e guloseimas do convescote. Tô de autas!!! #block.

7) Dentre os meus potenciais seguidores “desconhecidos”, eu não sigo quem tem muita foto caseira, sem sentido (claro, se essa não for a sua vibe): se a pessoa é amiga minha, eu obviamente tenho interesse em acompanhar o crescimento do filho dela ou vê-la em momentos banais. Mas, com todo o respeito, não tenho a menor disposição de acompanhar a rotina burguesa de um adolescente noruguês que aparece em 140% das fotos que ele publica fazendo careta na sua conta de Instagram – alguém já viu o Instagram do Neymar? A verdade é: se a sua proposta no Instagram é publicar fotos conceituais, de natureza e etc, siga perfis parecidos. De novo, no meu caso, amigos e pessoas próximas são a exceção para essa diretriz.

Dito isso, posso estar completamente errado em tudo o que escrevi. Mas é minha humilde percepção.

O caminho

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Em abril tem Lollapalooza, em São Paulo. A despeito de uma certa preguiça de ir a três dias seguidos de festival, comprei os ingressos, sim, para todas as noites de festerê roqueiro na Terra da Garoa. Além do Pearl Jam, que dispensa apresentações e qualquer tipo de imersão prévia, tocarão uma infinidade de bandas emergentes. Mas o que achei mais legal é que as apostas foram em bandas razoavelmente consagradas do fim dos anos 90 e ao longo da década de 2000. Nada de bandinha que só o seu amigo über-alternativo curte (e só ele) e não entende como o mundo inteiro não vê aquilo como “a melhor coisa que já foi produzida desde os Beatles”. Tem Kaiser Chiefs, Killers, Queens of The Stone Age, Franz Ferdinand (minha favorita dos anos 2000), Cake (preguicinha), The Hives e o blockbuster dos últimos anos, o tal do Black Keys.

Eu conheci esses blues rockers americanos de Ohio há uns três anos, quando um amigo pesquisador-musical me indicara dois discos deles (Attack and Release e o Brothers). Como sói ocorrer, apenas me arrisco a emitir uma opinião sobre um disco depois de ouvi-lo no mínimo quinze vezes, sendo que pelo menos dez delas no shuffle e com a obrigação de saber o nome da música (sim, eu não engulo esse papinho de “ai, eu gosto de um monte de música, mas não sou bom (boa) de saber o nome, tá?”). Aí sim, com todo o pós-conceito possível, eu me sinto seguro pra dizer: gosto razoavelmente do Attack and Release (que terá, salvo mudanças inesperadas, três músicas no setlist do show de São Paulo) e não curto tanto assim o Brothers (que terá nababescas SETE músicas no show e é meio cultuado). Sei lá, eu gosto de rock, agitado, frenético. Gosto de uma balada de rock também (sou viciado em Whitesnake não à toa), mas não curto mesmo músicas arrastadas. E existem muitas delas no Brothers.

Dito isso, nesses dias que antecedem o festival, tenho estudado bastante Black Keys. E tive a grata e deliciosa surpresa de ouvir à exaustão o El Camino, o último disco deles (de 2011) e que terá também sete músicas (de um total de 11 faixas) tocadas no show. Sou muito preguiçoso pra coisa nova. Mas te digo: esse disco é bom para caralho. Tem músicas que são bem agitadas, perfeitamente “tocáveis” em festas, como Gold On The Ceiling, Dead and Gone, Lonely Boy e Run Right Back. Tem Little Black Submarines, que começa devagar e depois tem uma virada bacana. E tem outras que não são tão rápidas mas bem gostosas de ouvir, como Hell Of A Season e Stop Stop. Não tenho tempo nem saco – afinal, faço outras coisas da vida – pra ouvir tudo que existe e tem potencial, mas esse disco eu recomendo grandão.

E agora dá licença que eu tenho menos de dois meses pra ouvir à exaustão os cinco discos do Queens Of The Stone Age e o último do The Hives.

Em busca da batida perfeita

carro1Eu não canso de dizer que a música permeia quase tudo na minha vida. Eu leio sobre música. Eu ouço filmes sobre músicos ou bandas. Eu pauto boa parte de minhas viagens para ver um show. Eu tento tocar guitarra mal e porcamente (praticamente desisti, mas ainda tenho esperança). Eu só saio de casa para um lugar tendo a certeza da qualidade da música que estará tocando lá. Eu tiro foto pensando em associar a imagem a alguma música. Eu estou sempre atento ao que está tocando ao meu redor. Sou bastante chato com isso, reconheço.

Outro dia, estava lembrando das músicas que estava escutando nas vezes em que bati o carro. De algumas delas eu me recordo com uma nitidez impressionante.

Era ano de 1994 em Brasília e eu devia ter carteira de motorista há não mais de dois meses. Chovia bastante e eu estava indo da Asa Sul para a Asa Norte, pelo Eixinho de baixo. Assim que passei pelo Setor Bancário Norte, ali na altura da 201 Norte, eu estava na faixa da esquerda com o Santana da minha mãe (BT-7259) cantando a plenos pulmões, ironicamente, “Highway Star”, do Deep Purple. Claro, o som era no K7 do carro. CD era luxo ainda.

Eis que, de repente, vejo um Chevette andando a tipo 10 por hora na minha frente. Freei o máximo que deu, mas não teve jeito. Enchi o carro por trás. Ele seguiu seu caminho e eu catei o meio fio entre as duas pistas do Eixinho L Norte. Furei dois pneus e dei uma detonada no carro. Nada muito grave. Enquanto isso, o som rolava “nobody’s gonna drive my car, I’m gonna race it to the groooooooound”.  Profético. Lembro de ter ligado, de um orelhão, no meio da chuva, pedindo socorro pra dois amigos meus do tempo do Sigma, o Caw e o Alceu, que aos 18 anos, era motorista de táxi – achava o máximo ter um amigo motorista de táxi naquela época.

Outra clássica foi no exato dia da final do Campeonato Brasileiro de 1995, entre Santos x Botafogo, aquele jogo que o Fogão levou a melhor e a Paulicéia Desvairada até hoje classifica “o maior roubo de todos os tempos”. Lembro de ter visto o primeiro tempo e depois ter ido para o ginásio do Iate Clube de Brasília, na Asa Norte, para ver o show do Pato Fu (o que a gente não faz por amor, hein?) com a minha então namorada. Acabou o show e decidimos ir para o Beirute da Asa Sul.

imagesCAI57K9NEstávamos no Golzinho vermelho da minha mãe e seguíamos pela W3 Norte, bem no comecinho, no lugar onde uns dois anos depois seria construído o Brasilia Shopping. Maior clima romântico, a gente ouvindo “Till There Was You”, dos Beatles. Àquela hora da noite, os sinais de trânsito da W3 piscavam no “amarelo”, de forma intermitente. E nesse exato ponto tinha um cruzamento. A preferência era minha e eu estava tranquilo no meu caminho, quando vi um carro, acho que um Opala, se aproximando no tal cruzamento. Nem pensei em parar, o tal carro ainda tava muito longe. Mas o cara não pensou assim. Ele tava voando e me acertou feio. O Golzinho capotou duas vezes, estourou até o tanque de gasolina, empeonou a roda em 90 graus e só foi parar no meio da ladeira, já perto do viaduto que passa por baixo do Eixo Monumental, na transição das W3 Norte e Sul.

Eu e a namorada saímos do carro atordoados, só pra ver que o FDP que tinha acertado a gente fugiu sem prestar socorro nem nada. “Then there was music and wonderful roses. They tell me in sweet fragrant meadows of dawn and you”.  Constrangedor. Eu ainda tava transtornado porque era dezembro e iria viajar de férias (não mais com aquele carro, claro) no dia seguinte. Nem lembro o tamanho da chateação em casa. Fora uma marca de cinto e as tradicionais dores musculares que costumam aparecer com força no dia seguinte aos acidentes, até que foi tudo bem.

Já tive outras batidas menores ou maiores, mas não tenho lembranças musicais destas. Uma outra situação, que não chegou a ser uma batida, ocorreu em uma viagem familiar para Europa em 1997, na época em que o dólar não comprava nem um Real. Pra resumir a ópera: a família Urso toda num furgão e meu irmão mais novo, o Xereta, dirigindo a van contra o tempo pra gente tentar pegar a última balsa que nos levaria a Veneza (Itália). Era tipo umas 18h, tudo escuro já (mês de dezembro) e a balsa sairia 18h mesmo, quando a gente chegou na cancela que dava acesso ao porto. Uns 800 metros de pista inclinada nos separavam do barco, que estava saindo. O cara deixou a gente passar e ainda falou pra corrermos “que dava”. Meu irmão acelerou o que pôde na rampa. No carro estava rolando AC/DC no talo. 500m. Som muito alto. 400m. Adrenalina total. 300m. A balsa saindo. 200m. A gente chegando. 100m…. e a balsa saiu, e ficou só o mar à frente. O Xereta só teve o tempo de frear bruscamente e girar o voltante para evitar que nos jogássemos no Mar Adriático. O cavalinho-de-pau nos deixou à beira do canal, longe da balsa, mas vivos. Parecia o fim de uma cena de ação em filme americano. Todo mundo com cara de pânico e os solos absurdos do Angus Young de Back In Black rolando sem parar. Tem como esquecer desse momento?

Aguardo relatos semelhantes, companheiros!!!

No tempo do “fera” e do “massa”

giriasNão sou exatamente um cara “nostálgico”, apesar de ter um carinho específico e até mesmo uma alforria qualitativa com músicas, filmes e livros trashes dos anos 1980. Mas até hoje ainda uso algumas expressões, no meu cotidiano, que, lembro bem, eram muito típicas de Brasília (talvez de outros lugares também) nos anos 1980. Claro, como todas as gírias, a maioria delas são adjetivos, nem sempre (ou quase nunca) elogiosos, ou substantivos (concretos e abstratos).

Quem nunca achou uma coisa “massa”  em Brasília? O “massa” veio bem antes do “fera”. E é bem simples de entender. Uma coisa é massa quando ela é legal, bacana, divertida. O mesmo valia para o “fera”, que hoje em dia ganhou conotação mais ampla e hoje define também o cara que é superqualificado em alguma coisa. Tipo “o João é fera na cozinha” ou “o Leonardo é fera em ensino religioso” ou “o Guilherme é uma fera em cálculos”.

E “toba”? Alguém já mandou o outro “tomar no toba”? Ou “dar o toba”? Esse termo andou meio sumido nos anos 90 e 2000, mas vejo vários amigos ressuscitando a expressão ultimamente. Desnecessário explicar o que significa, certo?

A “tchola” é precursora da “rola”, da “benga” e de uma infinidade de termos chulos utilizados pelos jovens (e pelos nem tão jovens assim) para definir o órgão genital masculino.

O “barãozinho” eu lembro bem. Hoje em dia pouca gente usa. Mas na minha época de moleque era batata: o camarada mostrava uma nota de mil cruzeiros (do Barão do Rio Branco), comprava uma bicicleta Extra Nylon, viajava pra Disney ou tinha um videocassete de quatro cabeças, então ele era o “barãozinho” da turma. O cara abonado, cheio da grana, do tutu.

O “prego” sobrevive firme e forte a décadas de (r)evoluções linguísticas. Serve pra desqualificar um cara meio babaquinha, chato, inconveniente. Uma variante dele, da mesma época, era o “pião” (ou seria “peão?”), esse também bastante utilizado em pleno 2013.

“Burraldo” acho que é dos tempos jurássicos dos anos 80. Tipo no fim da década, já estava em desuso. Mas nada mais era do que uma alcunha meio infantil para aumentar o nível da hostilidade dirigida ao sujeito que supostamente havia cometido alguma “burrice”.

Quem sofria bullying dos caras mais velhos da quadra ou da rua, como eu, não vai se esquecer da “pulmonar” e da “sardinha”. A primeira era quando os caras mais velhos te passavam uma “banda” (mais uma expressão!!!) e, com as duas mãos, apertavam sua caixa toráxica com força e em curtos e constantes intervalos, pra te fazer quase chorar de tanta falta de ar. Eu acho que a “pulmonar” era muito específica dos malas da 207 Sul, já que não me lembro de ter ouvido o termo ou mesmo visto a execução prática do mesmo em outro lugar de Brasília. Já a “sardinha” era aquela mania de, com o dedo indicador e o maior, dar um “tapa arrastado” na bunda do colega ou amigo. E tinha que ser na bunda, sem conotações homossexuais. Era pra machucar, sempre.

O “palha” também é dessa época – se não for anterior. Basicamente adjetiva uma atitude, situação, pessoa ou atuação condenável, fraca, decepcionante.

Vocês lembram de outros termos ou mesmo expressões dessa época?

PS: Infelizmente, devo reconhcer que o “véi”, da forma chula, irritante, opressora e onipresente como é utilizado hoje por todos os “jovens brasilienses”, já pode ser considerado como uma expressão típica dos habitantes do DF. Foda!!!