As rainhas da música irritante

qotsailustracaoJá tinha visto o Queens Of The Stone Age (QOTSA para os íntimos) ao vivo no Rock In Rio III, em 2001, mas na época não dei a mínima pra eles, que só tinham lançado dois discos e ganharam notoriedade no festival apenas pelo fato de o vocalista ter sido preso após ficar pelado no palco. Então que, na minha saga de “estudar” as bandas que tocarão no Lollapalooza 2013, daqui a umas três semanas em São Paulo, fiz nos últimos meses uma imersão nos cinco discos lançados pelo QOTSA. Algo como “será que existe vida além de Feel Good Hit Of The Summer, Little Sister No One Knows?”.

Claro, como bom apreciador de bandas e músicas boas, encontrei algumas coisas bem legais, principalmente nos dois primeiros discos (Queens Of The Stone AgeRated R), como Regular John, que parece muito Strokes (ou o contrário, já que Casablanca e cia surgiram depois do QOTSA). Também curti Mexicola, The Lost Art Of Keeping a Secret Tension Head, algo 200% influenciado por Foo Fighters. Tem também Lightning Song, um clone da fase acústica do Led Zeppelin. Sim, há boas músicas gravadas pela banda.

Eu não sou de falar mal de bandas de rock mais ou menos consagradas. E mesmo quando faço alguma crítica, quase peço desculpas. Mas essa overdose de QOTSA, a despeito do prolífico contato com coisas boas, me levou a uma constatação bem sólida: nunca vi uma banda com tanta música irritante. Não tô falando de música ruim (apesar de que é tênue a linha entre a mediocridade e o trabalho mal-compreendido), mas de umas canções decididamente chatas, em que fiquei com a nítida sensação de que o criador (ou criadores) das mesmas simplesmente desisitu no meio da gravação e se limitou a repetir os mesmos dois acordes seguidamente. Sem nenhuma interrupção e de forma sincronizada por um, dois, às vezes três minutos seguidos. De enlouquecer o Pato Donald tentando segurar o vazamento da torneira.

Não julgo nenhum disco antes de ouvi-lo como atividade fim (ouço o disco prestando atenção no nome da música e me dedicando àquilo) pelo menos umas dez vezes. Então posso dizer em alto e irritante som: músicas como Walking On The SidewalksI Was a Teenage Hand Model, do primeiro disco, são de tirar do sério qualquer cara que não esteja espumando numa viagem lisérgica. I Think I Lost My Headache, do segundo disco, é poeticamente o contrário do que diz o título: uma receita pra dor de cabeça no pobre do ouvinte.

A chatice não pára e parece ser obrigatória e quase uma marca registrada da banda, que não passou nenhum de seus discos sem gravar algo xarope no estilo zumbi-mosquito-hipnotismo. Song For The Dead, do álbum Songs For The Deaf até começa bem, depois chega na mesma preguicite aguda arrastada: uma barulheira constante e sem variações. E sem comentários para a faixa-gracinha The Real Song For The Deaf, que encerra o álbum como papel higiênico cagado.

A capacidade desta banda ir do céu ao inferno em duas faixas impressiona ainda mais no até certo ponto aclamado quarto disco, o Lullabies to Paralyze, que tem, segundo o meu (suspeitíssimo) critério de avaliação, mais três músicas que fazem você querer esmurrar o botão de liga / desliga do rádio ou amaldiçoar eternamente os preguiçosos da Kiss FM, que não pega direito em Brasília nem sob tortura: Someone’s In The Wolf (com inaceitáveis sete minutos de pura irritação), “You’ve Got A Killer Scene There, Man” e Skin On Skin, para mim, a campeã da perturbação mental de toda a obra da banda.

Tem anos que os californianos do QOTSA não lançam um trabalho novo. O último disco, Era Vulgaris, de 2005, ainda teve uma edição especial lançada com faixas ao vivo e outras remixadas, que são de enfartar qualquer apreciador de guitarras, como eu.

Eu respeito a banda, que já tocou e gravou com o versátil e talentoso Dave Grohl em diversas ocasiões. Apesar da quantidade muito acima do tolerável de experiências erráticas, a discografia do QOTSA os permite fazer um show legal no Lollapalooza. Tentei achar a sequência que eles têm tocado ultimamente para ver se a chatice se limita aos discos….Mas eles não têm tocado ultimamente!!! Então, otimista que sou, levo a esperança de ver um show “visceral”, como definiu meu simpático amigo César Arrais. Espero que ele esteja certo.

Em busca da batida perfeita

carro1Eu não canso de dizer que a música permeia quase tudo na minha vida. Eu leio sobre música. Eu ouço filmes sobre músicos ou bandas. Eu pauto boa parte de minhas viagens para ver um show. Eu tento tocar guitarra mal e porcamente (praticamente desisti, mas ainda tenho esperança). Eu só saio de casa para um lugar tendo a certeza da qualidade da música que estará tocando lá. Eu tiro foto pensando em associar a imagem a alguma música. Eu estou sempre atento ao que está tocando ao meu redor. Sou bastante chato com isso, reconheço.

Outro dia, estava lembrando das músicas que estava escutando nas vezes em que bati o carro. De algumas delas eu me recordo com uma nitidez impressionante.

Era ano de 1994 em Brasília e eu devia ter carteira de motorista há não mais de dois meses. Chovia bastante e eu estava indo da Asa Sul para a Asa Norte, pelo Eixinho de baixo. Assim que passei pelo Setor Bancário Norte, ali na altura da 201 Norte, eu estava na faixa da esquerda com o Santana da minha mãe (BT-7259) cantando a plenos pulmões, ironicamente, “Highway Star”, do Deep Purple. Claro, o som era no K7 do carro. CD era luxo ainda.

Eis que, de repente, vejo um Chevette andando a tipo 10 por hora na minha frente. Freei o máximo que deu, mas não teve jeito. Enchi o carro por trás. Ele seguiu seu caminho e eu catei o meio fio entre as duas pistas do Eixinho L Norte. Furei dois pneus e dei uma detonada no carro. Nada muito grave. Enquanto isso, o som rolava “nobody’s gonna drive my car, I’m gonna race it to the groooooooound”.  Profético. Lembro de ter ligado, de um orelhão, no meio da chuva, pedindo socorro pra dois amigos meus do tempo do Sigma, o Caw e o Alceu, que aos 18 anos, era motorista de táxi – achava o máximo ter um amigo motorista de táxi naquela época.

Outra clássica foi no exato dia da final do Campeonato Brasileiro de 1995, entre Santos x Botafogo, aquele jogo que o Fogão levou a melhor e a Paulicéia Desvairada até hoje classifica “o maior roubo de todos os tempos”. Lembro de ter visto o primeiro tempo e depois ter ido para o ginásio do Iate Clube de Brasília, na Asa Norte, para ver o show do Pato Fu (o que a gente não faz por amor, hein?) com a minha então namorada. Acabou o show e decidimos ir para o Beirute da Asa Sul.

imagesCAI57K9NEstávamos no Golzinho vermelho da minha mãe e seguíamos pela W3 Norte, bem no comecinho, no lugar onde uns dois anos depois seria construído o Brasilia Shopping. Maior clima romântico, a gente ouvindo “Till There Was You”, dos Beatles. Àquela hora da noite, os sinais de trânsito da W3 piscavam no “amarelo”, de forma intermitente. E nesse exato ponto tinha um cruzamento. A preferência era minha e eu estava tranquilo no meu caminho, quando vi um carro, acho que um Opala, se aproximando no tal cruzamento. Nem pensei em parar, o tal carro ainda tava muito longe. Mas o cara não pensou assim. Ele tava voando e me acertou feio. O Golzinho capotou duas vezes, estourou até o tanque de gasolina, empeonou a roda em 90 graus e só foi parar no meio da ladeira, já perto do viaduto que passa por baixo do Eixo Monumental, na transição das W3 Norte e Sul.

Eu e a namorada saímos do carro atordoados, só pra ver que o FDP que tinha acertado a gente fugiu sem prestar socorro nem nada. “Then there was music and wonderful roses. They tell me in sweet fragrant meadows of dawn and you”.  Constrangedor. Eu ainda tava transtornado porque era dezembro e iria viajar de férias (não mais com aquele carro, claro) no dia seguinte. Nem lembro o tamanho da chateação em casa. Fora uma marca de cinto e as tradicionais dores musculares que costumam aparecer com força no dia seguinte aos acidentes, até que foi tudo bem.

Já tive outras batidas menores ou maiores, mas não tenho lembranças musicais destas. Uma outra situação, que não chegou a ser uma batida, ocorreu em uma viagem familiar para Europa em 1997, na época em que o dólar não comprava nem um Real. Pra resumir a ópera: a família Urso toda num furgão e meu irmão mais novo, o Xereta, dirigindo a van contra o tempo pra gente tentar pegar a última balsa que nos levaria a Veneza (Itália). Era tipo umas 18h, tudo escuro já (mês de dezembro) e a balsa sairia 18h mesmo, quando a gente chegou na cancela que dava acesso ao porto. Uns 800 metros de pista inclinada nos separavam do barco, que estava saindo. O cara deixou a gente passar e ainda falou pra corrermos “que dava”. Meu irmão acelerou o que pôde na rampa. No carro estava rolando AC/DC no talo. 500m. Som muito alto. 400m. Adrenalina total. 300m. A balsa saindo. 200m. A gente chegando. 100m…. e a balsa saiu, e ficou só o mar à frente. O Xereta só teve o tempo de frear bruscamente e girar o voltante para evitar que nos jogássemos no Mar Adriático. O cavalinho-de-pau nos deixou à beira do canal, longe da balsa, mas vivos. Parecia o fim de uma cena de ação em filme americano. Todo mundo com cara de pânico e os solos absurdos do Angus Young de Back In Black rolando sem parar. Tem como esquecer desse momento?

Aguardo relatos semelhantes, companheiros!!!