Os campeões da curtição

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Não fiz nenhuma análise de campo ou levantamento estatístico, mas com tanto tempo investido em redes sociais (para alguns é desperdiçado, não é o meu caso), me arrisco a dizer aqui os temas campeões de popularidade no Facebook, uma das redes em que sou bastante assíduo:

1) Publicações sobre feitos e conquistas pessoais: “estou grávida”, “passei no vestibular”, ˜subi uma montanha”, “perdi 10kg”, “mudei de cidade”, “casei” e por aí vai. Esses são batata. É tipo mais de 100 curtidas em menos de uma hora. É quase politicamente incorreto você não curtir uma publicação de algum amigo (“amigo” de Facebook eu tô falando) seu que alcança alguma conquista desse porte. Brincadeiras à parte – e falando a verdade -, é bom demais ver as pessoas felizes e realizadas. Então esse tipo de publicação não tem erro.

2) Algum pedido de ajuda, para doação de sangue, ou situação que envolve a saúde ou a vida de alguém, ou mesmo algum aviso do tipo ˜roubaram meu carro˜. Normalmente este tipo de postagem ganha também muitos compartilhamentos. Nas redes, toda solidariedade é válida e, na velocidade de propagação proporcional à rede de contatos de cada um, a eficácia é maior e todo mundo quer ajudar como pode. E sem tirar a bunda da cadeira.

3) Internautas adoram um salseiro, uma confusão. Então, publicações que falam mal de alguma empresa em detalhes tendem a ser campeãs de audiência (e curtidas e compartilhamentos). Geralmente, as companhias telefônicas, aéreas e de TV a cabo são as baluartes da impopularidade não só no Procon, mas nas redes sociais também. É o caso raro em que mesmo um texto grande e sem foto ou vídeo, é devorado em detalhes pelos leitores. Tudo pela ânsia incontrolável de assistir a um barraco virtual de camarote.

4) Uma frase ou uma tirada realmente criativa é, na minha modesta opinião, o tipo de publicação que rende os índices de audiência mais honestos, puros e merecidos. Perdidas na imensidão de porcarias e idiotices que inundam nossas linhas do tempo, essas “sacadas” batutas, muito mais do que qualquer um dos itens acima, é o que diferencia os meninos dos homens. É o que forma (pro bem e pro mal) a imagem virtual do cidadão. Se você considerar que 90,87% (DataCampbell) das pessoas que estão no seu Facebook não são exatamente gente que te conhece nos mínimos detalhes, a imagem que a grande maioria faz de você no mundo real é o que você publica no mundo virtual. Então, se você sair da vala comum e sensata da galera que é discreta e “apenas observa”, saiba que dificilmente vai passar imune pelo julgamento popular em relação ao que postar: ou vai torrar o filme de vez e vira o bufão do Facebook ou quebra a cabeça pra postar algo relevante sempre e ganha alguns admiradores virtuais pelo menos.

Difícil? Nem tanto. O mundo virtual é bem parecido com o real: se você não tem nada para falar, não fale. Melhor ficar quieto e deixar a dúvida sobre a sua (ou minha, ou nossa, ou deles) “sem-gracisse” do que abrir a boca e dar aos Facebookers a certeza de que você (ou eu, ou nós ou eles) é tão interessante quanto uma pratada de chuchu. Como diz um amigo meu, “não te expõe, rapaz!˜.

O Instagram de cada um… e o meu Instagram

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Todo ano aparece uma rede social aqui, outra ali. Umas vão, outras perduram bastante, outras não dão certo nem sob tortura (abrazo  pro UOLKUT). Mas desde que entrei no tal do Instagram, posso dizer que essa passou a ser a minha preferida. Mais até que o Facebook.

Eu sou louco com foto. Principalmente foto de natureza, de paisagem, de lugares e de pessoas (não posadas). Nada comunica mais do que uma bela imagem. E o Instagram é divertido por isso. Você não tem apenas “amigos” ali. Você tem pessoas que você segue e se você as segue (ou se não segue) é porque gosta (ou não gosta) do que ela publica como fotos periodicamente. Cada um tem seu jeito de ver o Instagram. Tem uns que só postam fotos de comidas. Outros dos filhos. Outros das baladas. Outros do caminho entre a casa e o trabalho. Outros fazem quase um diário de viagem. Enfim, cada um se diverte do jeito que gosta e isso pode ser ajustado com um simples “seguir” ou “des-seguir”.

Eu demorei, mas já descobri minhas preferências ali: gosto de publicar, uma ou duas vezes por dia, alguma foto que eu tenha curtido bastante em viagens que fiz em algum momento da vida ou que tirei em Brasília mesmo. Quase sempre são fotos velhas. Não são do dia. Não gosto de aparecer nessas fotos. Tento publicar alguma foto que se destaque pelas cores, pelo cenário ou por algum ângulo diferente. Nem sempre dá certo. Mas gosto de tentar e me focar nisso. No começo, eu queria só ter meus “amigos” me seguindo. E vice-versa. Mas depois mudei completamente minha percepção sobre o meu jeito de usar o Instagram. Hoje sigo algumas premissas – que, claro, podem mudar – no meu relacionamento com essa rede. É assim, ó:

1) Se você quer interagir com gente na mesma vibe que você, faça a mesma coisa. Siga pessoas com fotos do mesmo estilo. No meu caso, sigo, por exemplo, o My Travel Gram, que premia as melhores fotos do dia. Ou o perfil da National Geographic, que dispensa apresentações. Tem alguns caras que eu descobri ao longo do tempo que acho muito legais. Um tal Black Raven posta fotos no estilo noir, nitidamente trabalhadas. Mas acho fascinante. Tem um maluco que só posta fotos dos telhados de casas de Vladivostok, na Rússia. E outro, que se chama The Nomad Barber, que retrata cidadãos comuns cortando os cabelos nas ruas de todo o mundo.

2) Colocar as marcações corretas é fundamental para atrair seguidores. Se você faz uma foto do deserto do Saara, além de marcar os tradicionais sites que promovem as melhores fotos do dia (My Travel Gram, Instagram Web Hub, Travelingram, só para citar alguns), identifique o local. Coloque #africa #saara #desert. E vá além. Identifique adjetivos, em inglês ou português ou qualquer idioma, como #beautiful #nice ou mesmo substantivos descritivos como #landscape #natureza e por aí vai. Muita gente procura fotos no Instagram com esses termos todos os dias. Dê uma busca no Google com “most common hashtags in Instagram“, que você vai encontrar uma série delas que ajudarão muita gente a acessar e eventualmente curtir suas fotos. Lembrando que o Instagram não permite mais de 30 marcações.

3) Spammers: perfis com fotos de mulheres gostosas falando “check out my pics” ou “get 10K followers” me seguindo? Bloqueio e denúncia na hora.

4) Bullers ou Trolls: segundo as regras de qualquer manual de bom comportamento nas redes sociais, caras que ficam repetindo provocações sem sentido e ávidos para bater boca ou te irritar, devem ter seus comentários apagados sem dó. Sujeitos assim nada acrescentam ao seu mundinho virtual. Se o cara insistir em sua missão de ser desagradável, faça um favor a ele: bloqueie-o.

5) Não sigo quem tem milhares de seguidores e não segue ninguém: há perfis que podem ter as melhores fotos do mundo, mas se os caras têm tipo 30 mil seguidores e seguem 10 pessoas, não vejo isso como um bom sinal de interação. Ele não tem obrigação de te seguir, mas se há uma desproporção nessa relação seguidores / seguindo, pode ter certeza que ele não terá o menor interesse nas suas fotos. Trate-o da mesma forma.

6) Não poste demais: não tem nada mais irritante do que um cara que posta 10, 15 fotos por dia. Pior: em sequência. O cara vai pro aniversario da tia e tira foto de todas as crianças e guloseimas do convescote. Tô de autas!!! #block.

7) Dentre os meus potenciais seguidores “desconhecidos”, eu não sigo quem tem muita foto caseira, sem sentido (claro, se essa não for a sua vibe): se a pessoa é amiga minha, eu obviamente tenho interesse em acompanhar o crescimento do filho dela ou vê-la em momentos banais. Mas, com todo o respeito, não tenho a menor disposição de acompanhar a rotina burguesa de um adolescente noruguês que aparece em 140% das fotos que ele publica fazendo careta na sua conta de Instagram – alguém já viu o Instagram do Neymar? A verdade é: se a sua proposta no Instagram é publicar fotos conceituais, de natureza e etc, siga perfis parecidos. De novo, no meu caso, amigos e pessoas próximas são a exceção para essa diretriz.

Dito isso, posso estar completamente errado em tudo o que escrevi. Mas é minha humilde percepção.

Caninos brancos

CANINOSBRANCOS Estava há um bom tempo sem escrever sobre banalidades. Talvez eu tenha tentado compensar isso, inconscientemente que fosse, com postagens ou opiniões emitidas nessas vastidão de redes sociais (mais notoriamente Facebook, a maior e mais popular e consolidada de todas, ou individualmente por GTALK, grupos de discussão, em menor escala). Já me disseram que os blogs acabaram, que o negócio é criar uma página no Facebook, mas discordo completamente. Facebook, que adoro e sou absolutamente viciado, tem um propósito meio “balaio de gato”. Todo mundo, sem discriminação ou afinidade, entra, vê o que você postou (ou não) e comenta (ou não). E acabou.

O blog, acho, se posiciona hoje mais como o rádio depois que a TV fatiou-lhe a audiência: é uma leitura segmentada, até certo ponto “qualificada” no sentido de que ninguém vai ter acesso àquela informação por osmose ou passivamente. É preciso que a pessoa tenha se dado ao trabalho, mínimo que seja, de ter digitado o endereço do site ou acessado o atalho em seus favoritos (pretensão!!!). Sua publicação não vai desaparecer na linha do tempo do leitor em meio a milhares de fotos de cachorros, bebês, pratos de comida, festas, almoços de família ou viagens pelo mundo ou gente reclamando da operadora de telefone ou de atraso no vôo.

Desta forma, discreta e sem alarde, decidi voltar a escrever sobre coisas que gosto, que curto, que vejo, que leio, que faço neste espaço. É minha primeira meta para o ano que se inicia hoje.

E, sem mais delongas, deixo aqui minhas impressões, nessa primeira publicação, sobre o livro que mais gostei de ler em 2012, mais uma boa indicação de um amigo que sempre me passa referências bastante interessantes: Caninos Brancos, do Jack London. Escrito há mais de 100 anos (é de 1906), o livro tem uma temática aparentemente ingênua e que tinha tudo para ser enfadonha: o mundo visto do ponto de vista de um cão-lobo, que começa sua vida na natureza selvagem do Alasca, passa por diversos perrengues e situações conflitantes e angustiantes com seus semelhantes e, principalmente, sua mãe, e depois vive o horror e o amor na mão de seres humanos, domadores, índios ou simples transeuntes americanos de passagem pelo maior estado norte-americano.

Muita gente já leu esse livro há tempos, mas queria começar com ele por aqui porque, apesar de escrito há mais de um século (e eu tenho particular birra e dificuldade com literatura produzida há mais de 50 anos), é de uma inteligência emocional e de uma simplicidade ímpares. Das que fazem você refletir sobre os mais diversos pontos de vista de uma situação em que aparentemente não existe um outro “ponto de vista”. A vida do cão-lobo relatada no livro mostra como o contato com o mundo real massacra, machuca, testa, mas no fim das contas, amadurece e fortalece, ainda que com várias cicatrizes, a personalidade do bicho. Sem nenhum pieguismo, e com uma serenidade leve, mas igualmente realista, o livro leva o animal ao encontro do afeto e da adaptação necessária para a sua sobrevivência entre os diferentes. Ao mundo onde o que se faz é o que se recebe. Onde todo mal que é feito é devolvido na mesma carga. E o mesmo ocorre, ufa, com o bem gerado.

Eu espero que esse blog (ou sítio) seja da mesma forma, algo que só traga leveza a quem passar por aqui. Não quero ver discussão agressiva, provocação, bullying, bate-boca nem nada disso – por isso, moderarei, sim, os comentários. Quero, assim como o cão-lobo, chegar logo no ponto de abstrair só energia boa quando chegar em casa do trabalho e me divertir pensando no que escreverei naquela noite. Meio que ainda sem uma direção específica (tenho uma meia dúzia de temas que gosto e vou discorrer sobre com o passar dos dias), espero continuar, pelo menos uma vezinha por semana, deixando minhas impressões mundanas por aqui. Sem alarde, sem papagaiada, sem exposição. Com discrição e disposição pra jogar conversa fiada fora. Se você quer trocar uma ideia comigo sobre algum assunto que tivermos em comum, como diz um outro amigo meu, “conversa aí”.