Um por todos…

dartagnaneostresmosqueteirosTerminei de ler esses dias meu primeiro livro de 2013. E, para quem tem dificuldade em absorver literatura com mais de 50 anos (muito mais, no caso), até que passei bem feliz pelo clássico Os Três Mosqueteiros, do Alexandre Dumas. A história, ambientada no século XVII, na França em constantes disputas com a Inglaterra, relata os feitos de quatro mosqueteiros (D’artagnan e os tais “três mosqueteiros”, Athos, Porthos e Aramis), tanto em ferozes duelos de espadas como em tramóias, intrigas e encruzilhadas políticas e amorosas que têm como pano de fundo a corte francesa, na pele do Rei Luis XIII, a rainha Ana da Áustria, o cardeal Richelieu e uma misteriosa mulher conhecida como “Milady”. D’Artagnan é o personagem principal e dá pra dizer também que o autor desenvolve muito mais Athos do que Aramis e, principalmente, Porthos, esse quase relegado a um aspone fanfarrão dos outros brothers. 

Eu tenho um carinho muito especial por essa história, e quem tem mais de 30 anos provavelmente o tem também, por conta de um desenho animado que passou à exaustão nos anos 80 aqui no Brasil, chamado “D’artagnan e os Três Mosqueteiros“. Era exibido num canal tipo TV Manchete ou TV Nacional (não lembro direito) e os personagens, caracterizados como cachorros e outros bichos (o maquiavélico Richelieu é uma raposa, não à toa) reproduziam com fidelidade (e algumas pequenas mudanças, como por exemplo a Sra. Bonacieux se chamava Juliette) a história contada por Dumas. Eu lembro tanto desse desenho que toda vez que pegava o livro para ler agora, ficava com a música tema de abertura na minha cabeça. Coisa do tipo chiclete sabe. “Um por todos contra o mal, e todos por um…E o amor de D’artagnan era pra Julietteeee…D’artagnan, D’artagnan era um valente e forte… “. Aff!!!

O livro chama a atenção por ser uma narrativa muito bem construída, apesar de comprida (as 800 páginas, vale lembrar, são em letras médias, mas num livro pequenininho, tipo você lê 50 páginas em mais ou menos uma hora, se tiver razoavelmente concentrado – algo difícil pra um PHD em DDA como eu). Alexandre Dumas e o tradutor usam e abusam do formalismo da segunda pessoa do singular e do plural. Sobram verbos como enxergais, fazeis, olhai e outros. Também é muito comum ele parar para conversar com o leitor em linguagem direta. Tipo “Como o leitor já soube no capítulo anterior…” ou “E agora, querido leitor, você deve estar imaginando onde estão nossos amigos….”.

É um livro que dá perfeitamente para ser lido por um adolescente. Chega a ser maniqueísta, pois a vilã só faz maldades e os quatro (e não três) amigos são baluartes de valores como amizades, cooperação, amor e lealdade. Sempre, é claro, regados com pitadas de transgressões como alguns porres e triangulações amorosas, como ocorre com todos os heróis medievais ou modernos. Mas mesmo as cenas de sexo e morte são relatadas de forma excessivamente discretas e desprovidas de muitos detalhes (como se isso fosse algum problema), a não ser para dramatizar algumas situações, como num embate envolvendo o Duque de Buckingham. Mas fazem, sim, parte da trama. Tipo você não sente que está lendo um capítulo dispensável, tudo está ligado, ainda que forma bem tênue.

Outra peculiaridade que descobri pesquisando na internet depois é que quase todos os personagens principais existiram. Todos têm nome e sobrenome e viveram mais ou menos na época referida, nos anos mil seiscentos e alguma coisa. Para quem já leu a história, uma outra curiosidade: Alexandre Dumas fez duas sequências, bastante compridas por sinal, chamadas Vinte Anos Depois e O Visconde da Máscara de Ferro. Pelo que li das sinopses, parecem ter enredos mais pesados e tristes do que o clássico original.Vou colocar na fila para ler um dia.

No fim das contas, Os Três Mosqueteiros valeu demais. Não é um livro que te faz ficar instigado e com o coração saindo pela boca nem super curioso, mas é leve, divertido e às vezes até engraçado e um pouco ousado, considerando que foi escrito em 1844. É um clássico quase que obrigatório. Sem falar na imensidão de filmes que já foram feitos inspirados na obra-prima de Dumas. Até o Charlie Sheen já participou de uma das adaptações – ele era o “religioso” Aramis.

Eu fiquei com a musiquinha, quase um cântico religioso, do desenho na cabeça. Agora clica aí e vê se você não vai ficar também: